https://soundcloud.com/idealismus/last-time Eu não aguentaria ser passado. Por isso como um rio, titubeio, me meandro, para não chegar. Para saber que sempre haverá lá, e que ainda não foi. Gosto da cor do mar quando não tem sol. [nublado]
Ah essas paixões que nos acometem . . nos assaltam de repente tão distraídos . . voltam como cometas há muito tempo esquecidos
. . entre uns cometidos comentários breves.
Essas paixões que nos arrebatam
. . com violência nos tiram do rebanho morto
. . que nos bate num êxtase o vazio de um furto
. . e que uma ausência com pressa dilata.
Ah essas paixões que arrematam . . por completo nos leva
. . sem remo nem vela
. . e não importa se jovem se velho à deriva nos mata.
Essas paixões que nos arrefecem . . que reféns do impossível nos torna tão frios
. . e no ar do suspiro tomamos um imenso rio . . E depois de tão longe nos deixa no mesmo lugar.
O ultimo romance. Tão clichê. LH. Radiohead - Creep - com Charlotte Gainsbourg "Que falta fazes, Darcy. Poderia ficar discorrendo sobre tuas frases. Ah, me lembro de um gracejo teu. Dizias que o ideal é amar três mulheres ao mesmo tempo. E que elas, em contrapartida, também amassem um trio, ora pois."
São manhãs de rádio, em que o radialistas perdeu o amor faz tempo. Acaba fazendo a gente ficar meio assim. Eu tenho que descobrir quem é esse que escolhe as músicas.
s.f. Sinal para fazer lembrar; apontamento; atenção; apreciação; reparo; exposição sumária; ofensa; erro; sinal na música para representar o som; grau com que se afere o aproveitamento; conta ou papeleta em que se registram mercadorias vendidas; som; timbre; voz; papel que representa moeda; reputação; registro ou serviço de notariado; comunicação escrita e oficial entre ministros de países diferentes.
Quando a palavra vem à mente. As palavras nos chamam de repente. NOITE ALTA Canção da noite alta
Menina está dormindo. Coração bulindo. Mãe, por que não fechaste a janela? É tarde, agora: Pé ante pé Vem vindo O Cavaleiro do Luar. Na sua fronte de prata A lua se retrata. No seu peito Bate um coração perfeito. No seu coração Dorme um leão, Dorme um leão com uma rosa na boca. E o príncipe ergue o punhal no ar: ...um grito aflito... Louca! Mário Quintana SONETO X Noite alta. No escuro um vaga-lume lume, na escuridão, o seu luzeiro e faz, com seu luzir pálido e trêmulo, mais viva a escuridão da noite alta. A noite é fria e longa, o ar é frio e longo e ausente e úmido, e voejam no ar úmido e frio as asas longas dos pássaros ausentes noite alta. Passos se perdem nessa noite vaga, incertos, longos passos que se espalham no ar ausente de tão fria noite, que, inda passada, é para mim presente, vaga luz, vaga-lume, asas longas, sons de passos perdidos, noite alta. Recife, 10.8.1963 Daniel Lima PELA NOITE ALTA já reparaste? pelo outono, nas noites frias é sem lua, - quando um silêncio de abandono cai sobre a enorme alma da rua - como o beijo de luz que as janelas abertas poem nas calçadas tristes e desertas, faz reviver do fundo da memória, por um milagre de magia, um gesto morto e já olvidado, o doce fecho de uma história, sombra de amor, melancolia, vago perfume do passado?...
Janelas alta noite iluminadas, deixando adivinhar, ao crivo da cortina, suaves palavras murmuradas por duas bocas bem-amadas, e a exaltação das almas postas em surdina... Eu recordo, perdida, longe, em um trecho azul da minha vida, uma janela assim: Oásis de branca claridade dentro da noite, a transbordar felicidade, para o mistério de um jardim... E o fantasma da minha mocidade só, debruçado junto a mim...
Alceu Wamosy
De repente os olhos bem abertos. E a escuridão toda escura. Deve ser noite alta. Acendo a luz da cabeceira e para o meu desespero são duas horas da noite. E a cabeça clara e lúcida. Ainda arranjarei alguém igual a quem eu possa telefonar às duas da noite e que não me maldiga. Quem?
Quem sofre de insônia? E as horas não passam. Saio da cama, tomo café. E ainda por cima com um desses horríveis substitutos do açúcar porque Dr. José Carlos Cabral de Almeida, dietista, acha que preciso perder os quatro quilos que aumentei com a superalimentação depois do incêndio. E o que se passa na luz acesa da sala? Pensa-se uma escuridão clara. Não, não se pensa. Sente-se.
Sente-se uma coisa que só tem um nome: solidão. Ler? Jamais. Escrever? Jamais. Passa-se um tempo, olha-se o relógio, quem sabe são cinco horas. Nem quatro chegaram. Quem estará acordado agora? E nem posso pedir que me telefonem no meio da noite pois posso estar dormindo e não perdoar. Tomar uma pílula para dormir? Mas e o vício que nos espreita? Ninguém me perdoaria o vício. Então fico sentada na sala, sentindo. Sentindo o quê? O nada. E o telefone à mão.
Mas quantas vezes a insônia é um dom. De repente acordar no meio da noite e ter essa coisa rara: solidão. Quase nenhum ruído. Só o das ondas do mar batendo na praia. E tomo café com gosto, toda sozinha no mundo. Ninguém me interrompe o nada. É um nada a um tempo vazio e rico. E o telefone mudo, sem aquele toque súbito que sobressalta. Depois vai amanhecendo.
As nuvens se clareando sob um sol às vezes pálido como uma lua, às vezes de fogo puro. Vou ao terraço e sou talvez a primeira do dia a ver a espuma branca do mar. O mar é meu, o sol é meu, a terra é minha. E sinto-me feliz por nada, por tudo. Até que, como o sol subindo, a casa vai acordando e há o reencontro com meus filhos sonolentos.
— Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999
De los Diversos Colores de Las Caras y Cuerpos de los Cerreños Obra de Manuel Scorza
Seis minutos antes do meio-dia do 14 de março de 1903 mudou, pela primeira vez a cor das caras dos cerrenhos. Até então os felizes habitantes da chuvosa Cerro de Pasco ostentavam rostos acobreados .Esse meio-dia seus rostos mudaram: um homem emergiu de uma cantina onde bebia aguardente de cobra com a cara e o corpo azuis, ao dia seguinte outro varão que se embriagava na mesma cantina, luziu o verde, três dias depois um homem de rosto e mãos alaranjados passeava pela praça Carrión. Faltavam poucos dias para o carnaval e se pensou que eram candidatos a ocupar o lugar de diablos-supay, mas os carnavais passaram e a gente seguiu mudando de cor.
Cerro de Pasco é a cidade mais alta do mundo, suas ruelas se retorcem a altura maior que os montes mais elevados da Europa .É uma cidade onde chovem duzentos dias ao ano. O dia se entreabre sobre uma cerração. Cerro de Pasco se acucuruca ao final da pampa de Junín. Para os mesmos motoristas encolhidos em cachicóis até os olhos, a pampa é um mal pedaço. Todos os caminhoneiros colam em seus parabrisas estampas da Beatinha de Humay: lle encomendam seus motores. Não pode ser que lhes falhe nesta estepe perpetuamente polida pelas geadas; nesta pampa onde o soroche, o mal de altura fulmina a tantos costenhos! Os viajantes que conhecem essa desolação vigiada pelo olho zeloso do lago Junín se benzem assim que desembocam dos rochosos desfiladeiros de La Oroya. Virgem Maria, Protetora dos caminhantes, ampara-nos! Santa Tecla, Protetora dos peregrinos, rogai por nós! Rezam, verdes pela falta de oxigênio, apertando os limões inúteis contra a anoxia. Nem os colares de limão nem as orações servem na estepe sem árvores. Porque os que não viajam a Huánuco não conhecem árvores nem flores, nunca as viram; aqui não crescem. Só o pasto baixinho desafia a cólera dos ventos. Sem esse pasto, ninguém viveria. O pajón é o alimento dos rebanhos de carneiros, única riqueza. Milhares de ovelhas ramoneam na pampa até as três da tarde. Às quatro, cai a guilhotina da escuridão. O entardecer não é o fim do dia senão o acabamento do mundo.
O que traz os homens a esta capitania do inferno? O mineral.
Minha fascinação tardia da flores. Talvez essa seja a mais interessante, pela sua forma, disposição e as tonalidades. Essas tonalidades trazem lembranças e lugares. Fuchsia ou brinco de princesa.