quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Verão e tédio



“Sabia que era estupidez, que não me livraria do sol se desse um passo. Mas dei um passo, um só passo à frente. E desta vez, sem se levantar, o árabe tirou a faca, que ele me exibiu ao sol. A luz brilhou no aço e era como se uma longa lâmina fulgurante me atingisse na testa. No mesmo momento, o suor acumulado nas sobrancelhas correu de repente pelas pálpebras, recobrindo-as com um véu morno e espesso. Meus olhos ficaram cegos por trás desta cortina de lágrimas e de sal. Sentia apenas os címbalos do sol na testa e, de modo difuso, a lâmina brilhante da faca sempre diante de mim. Esta espada incandescente corroía as pestanas e penetrava meus olhos doloridos. Foi então que tudo vacilou. O mar trouxe um sopro espesso e ardente. Pareceu-me que o céu se abria em toda a sua extensão deixando chover fogo. Todo o meu ser se retesou e crispei a mão sobre o revólver. O gatilho cedeu, toquei o ventre polido da coronha e foi aí, no barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecedor, que tudo começou. Sacudi o suor e o sol. Compreendi que destruíra o equilíbrio do dia, o silêncio excepcional de uma praia onde havia sido feliz. Então atirei quatro vezes ainda num corpo inerte em que as balas se enterravam sem que se desse por isso. E era como se desse quatro batidas secas na porta da desgraça.” - Albert Camus.

É possível matar de calor.




"Quase antes de compreender já estava escutando a noite, o perfeito silêncio pontilhado pelos grilos."
- Verão.
Julio Cortázar




Da lonjura do mar
é que nasce a grossura dos rios
é a saudade que os faz
fortes e navegáveis.

A.S.


Ao Som
de Itamar assumpção
isso não vai ficar assim; vou tirar você do dicionario; me basta; nobody knows.

Um comentário:

Jordana Diógenis. disse...

mar a gente ouve sente ou vê?